Crise climática tem influência negativa no desenvolvimento de crianças, diz estudo
A pesquisa se baseia em dados da Fiocruz, Fundação Maria Cecilia Vidigal, Sisvan, do Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima e Política Nacional sobre Mudança de Clima
Crianças nascidas em 2020 serão expostas 6,8 vezes mais ondas de calor e 2,8 vezes mais inundações de rios e perdas de safra ao longo da vida do que as nascidas em 1960. O dado é do estudo “A primeira infância no centro da crise climática”, do Núcleo Ciência Pela Infância (NI) que une indicações que mostram que mudanças climáticas e a intensificação de eventos extremos afetam diretamente a saúde, a nutrição, o aprendizado e o bem-estar infantil no Brasil.
A pesquisa se baseia em dados da Fiocruz, Fundação Maria Cecilia Vidigal, Sisvan, do Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima e Política Nacional sobre Mudança de Clima, além de fontes a nível mundial que ajudam a entender os panoramas da crise climática. Considera-se que 40 milhões de crianças de adolescentes no Brasil enfrentam ao menos um risco climático, com 1,1 milhão sofrendo com a falta de água.
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Conforme a professora associada do Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Alicia Matijasevich, falar sobre como as crianças estão entre as mais vulneráveis aos efeitos da crise ambiental, apesar de terem pouca ou nenhuma responsabilidade por sua origem.
“A primeira infância é um período crítico para o desenvolvimento físico, cognitivo, social, emocional e qualquer prejuízo nesta fase pode ter consequências duradouras ao longo da vida. Então eventos como ondas de calor, enchentes, secas, poluição, deslocamento forçado afetam a saúde, a nutrição, o o à educação, a estabilidade emocional das crianças, agravando as desigualdades já existentes”, explica.
O cenário se agrava com os frequentes aumentos e intensidades dos eventos climáticos no Brasil. Os números apontam que houve uma mudança expressiva nos últimos anos, saindo de 1.779 eventos em 2015 para 6.772 em 2023. Ondas de calor, chuvas torrenciais, secas prolongadas e incêndios florestais impõem riscos significativos, em especial para quem está no começo da vida.
37% das crianças Brasileiras de 0 a 4 anos vivem em situação de insegurança alimentar
O estresse tóxico e prejuízos à saúde mental, perda de moradia e o aumento de doenças infecciosas são citados como impactos diretos da crise na vida de crianças na primeira infância. Os efeitos são sentidos de forma desproporcional por populações em situação de vulnerabilidade, como crianças negras, indígenas e moradoras das regiões Norte e Nordeste.
No Brasil, há cerca de 18,1 milhões de crianças no estágio da primeira infância, com 8,1 milhões vivendo em situação de pobreza ou extrema pobreza. Além disso, uma em cada 3 crianças de 0 a 4 anos vivem em situação de insegurança alimentar, o maior índice entre todas as faixas etárias. No total, 5,4 milhões de crianças de até 4 anos enfrentam algum grau de insegurança alimentar.
O desequilíbrio climático também torna vulnerabilidades mais intensas e afeta relações de família, o que compromete o desenvolvimento infantil. Mais de 4 milhões de pessoas foram retiradas de suas casas por eventos extremos entre os anos de 2013 e 2016.
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A educação também é afetada de forma direta
Somente em 2024, aproximadamente 1,18 milhão de crianças tiveram suas aulas suspensas no Brasil, com o maior número de casos sendo por alagamento. Nas enchentes do Rio Grande do Sul no ano ado, por exemplo, acredita-se que 55.749 horas-aula foram perdidas na educação básica, com prejuízos materiais estimados em R$ 2,36 bilhões.
O estudo destaca ainda que 43,5% das escolas de educação infantil em capitais brasileiras não têm áreas verdes. O número é ainda maior nas escolas situadas em favelas e comunidades urbanas, com 52,4%.
Conforme Alicia, o dado é preocupante já que o contato com a natureza é fundamental para o desenvolvimento integral das crianças. “Ambientes verdes e de qualidade favorecem a saúde física e mental, estimulam a curiosidade, a criatividade, o aprendizado e o bem estar emocional”.
Políticas de prevenção devem ser adotadas
O estudo orienta ainda que é necessário investir em proteção imediata, adaptação, infraestrutura e serviços resilientes para minimizar esses impactos. A professora da USP diz ainda que os impactos das mudanças climáticas na vida das crianças não são apenas um problema ambiental, mas uma questão urgente de justiça social, equidade intergeracional e direitos da infância.
“A pesquisa mostra claramente que se nenhuma ação for tomada, as crianças de hoje enfrentarão eventos climáticos extremos com uma intensidade muito maior do que outras gerações ao longo da vida. Por isso falar em proteção imediata, adaptação de serviços essenciais e prevenção do aquecimento global é falar de garantir saúde, educação, nutrição e segurança para as futuras gerações", destaca Alicia Matijasevich.
As recomendações do estudo incluem o fortalecimento da atenção primária à saúde, modernização do saneamento, promoção de agroecologia e agricultura familiar integrada a programas de transferência de renda, estabelecer espaços seguros para acolhimento infantil em deslocamento, capacitação de educadores e promoção de escuta e participação das crianças na prevenção.
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